sexta-feira, 2 de setembro de 2011

PROJETO GOLFINHO ROTADOR COMPLETA 21 ANOS




O PROJETO GOLFINHO ROTADOR

21 anos do Projeto Golfinho Rotador - Coordenado pelo Centro Mamíferos Aquáticos, Executado pelo Centro Golfinho Rotador e patrocinado pela Petrobras.
Se encantar com a imagem dos golfinhos nadando ou rodando na frente do barco, ou com a
observação de binóculos de seus os comportamentos do Mirante dos Golfinhos é fácil. Mas, estudar
para preservar este fenômeno, que é a concentração de golfinhos em Fernando de Noronha, é muito
difícil. Há 21 anos pesquisadores e educadores ambientais vêm trabalhando para manter o
comportamento natural dos golfinhos-rotadores de Fernando de Noronha.

A MISSÃO E OS OBJETIVOS

A missão do Projeto Golfinho Rotador é desenvolver ações de pesquisa, educação ambiental e
envolvimento comunitário em prol da conservação dos golfinhos-rotadores, de Fernando de Noronha
e da biodiversidade marinha.
Os objetivos específicos do Projeto Golfinho Rotador são:
•                     Ampliar o conhecimento científico sobre golfinho-rotador.
•                     Sistematizar o armazenamento e a gestão de dados pertinentes.
•                     Promover divulgação dos resultados das pesquisas junto à comunidade científica.
•                     Promover educação ambiental em Fernando de Noronha.
•                     Promover capacitação profissional para a população noronhense se beneficie do
turismo.
•                     Incentivar ações em prol da cultura e do esporte em Fernando de Noronha.
•                     Subsidiar e implementar políticas públicas e instrumentos de conservação da
biodiversidade de mamíferos aquáticos e de ecossistemas recifais.
•                     Apoiar a gestão do Parque Nacional Marinho e da Área de Proteção Ambiental de
Fernando de Noronha, bem como de outras unidades de conservação nacionais de relevantes
interesses para a conservação de mamíferos aquáticos e de ecossistemas recifais.
•                     Divulgar as ações junto à mídia e aos demais públicos de relacionamento.

21 ANOS DE PROJETO GOLFINHO ROTADOR


De 23 a 30 de agosto de 2011, o Projeto Golfinho Rotador completa sua maior idade, 21 anos de
atividades de preservação e educação ambiental em Fernando de Noronha.
Os pesquisadores somam 5323 dias e 35.589 horas de observação e 1.278 mergulhos com os cerca
de 10 mil golfinhos existentes em Fernando de Noronha.
Também foram realizados atendimentos a 232 mil turistas, mais de 610 oficinas teóricas e práticas
de educação ambiental voltadas para estudantes e capacitação de cerca de 7,5 mil alunos. O Projeto
Golfinho Rotador realizou 45 cursos profissionalizantes em ecoturismo para a comunidade
noronhense, atingindo 1.975 ilhéus.
O Projeto Golfinho Rotador é Coordenado pelo Centro Mamíferos Aquáticos (ICMBio/MMA),
Executado pelo Centro Golfinho Rotador e Patrocinado pela Petrobras.
Por conta das ações de preservação desenvolvidas pelo Projeto Golfinho Rotador, a quantidade de
rotadores no Arquipélago permanece praticamente a mesma desde 1990, quando foi iniciado o
projeto. Na Baía dos Golfinhos, o local de preferência desses cetáceos (entram em 95% dos dias do
ano na Baía), eles descansam, comunicam-se, reproduzem e as fêmeas amamentam seus filhotes.
O Projeto Golfinho Rotador é patrocinado desde 2001 pela Petrobras e conta com apoio do Conselho
Federal Gestor do Fundo de Defesa  de Direito Difuso (Ministério da Justiça) e CNPQ.

A SUSTENTABILIDADE

O projeto de construção do prédio-sede do Centro Golfinho Rotador ganhou o Prêmio Procel nacional
pela preocupação com o consumo de energia mais consciente. O projeto previu a melhor circulação
de ar cruzada - para evitar o uso de condicionadores de ar; aberturas para amenizar a incidência
solar; projeto hidrosanitário com reuso das águas pluviais por calhas e cisterna; e projeto elétrico
com aquecimento solar das águas dos chuveiros, entre outros. Foram usados materiais certificados e
reciclados, cobertura de telha Tetrapak (reciclagem de tubos de pasta de dentes), forro de painel
OSB (madeira de reflorestamento) e caixa de descargas econômicas.
Conforme diretriz da Política Ambiental do PGR, por meio do programa de sustentabilidade, estamos
estimulando o emprego de práticas sustentáveis nas hospedarias domiciliares e nos supermercados,
bem como usando a sede e as rotinas do PGR como exemplo da viabilidade do emprego de uma vida
mais sustentável em Fernando de Noronha. 
Atendemos às legislações locais e federias e outros requisitos, e com o gerenciamento correto dos
seus aspectos e impactos significativos da sustentabilidade.
Usamos processos construtivos e materiais sustentáveis em nossas instalações, como:
•        uso máximo da luz natural, da ventilação e da captação de água de chuva;
•        toda madeira do prédio é certificada e de reflorestamento;
•        projeto arquitetônico do prédio minimiza a impermeabilização do solo;
•        uso de telhado branco de embalagem tetrapak (reciclado), contribuindo para a diminuição do
aquecimento global;
•        separação do nosso lixo;
•        adoção em nossas instalações de produtos de limpeza biodegradáveis e elaborados pela
própria equipe a partir de componentes naturais;
•        monitoramento e registro do consumo de energia elétrica, água e da produção de resíduos;
•        consumo racional de energia elétrica, com aquecimento solar nos chuveiros, utilização de
equipamentos, acessórios e lâmpadas de baixo consumo energético;
•        projeto paisagístico e de recomposição ambiental com plantas endêmicas e frutíferas;
•        emprego das podas e varrição do jardim na compostagem, assim como restos dos alimentos
consumidos pela equipe;
•        política de compra de produtos e serviços ecologicamente adequados e que ajudem a
promover uma sociedade mais justa e saudável.

A HISTÓRIA DO PGR
A alta frequência de golfinhos-rotadores, a falta de conhecimento sobre estes animais, a eminência
do crescimento desordenado do turismo náutico em Fernando de Noronha, bem como a aspiração de
mais de 10 anos para viver no Arquipélago e minha situação de recém formado em Oceanografia e
desempregado, me levaram a criar o Projeto Golfinho Rotador, em 23 de agosto de 1990, do qual
sou coordenador desde então.

A METODOLOGIA DO PGR

Em função de fatores como disponibilidade de recursos financeiros, de equipamentos, de espaço
para alojamento e de equipe, o Projeto Golfinho Rotador foi incorporando aos poucos novas etapas
metodológicas. Atualmente já conseguimos atingir o mínimo necessário do que consideramos para
ser um programa de conservação da natureza, desenvolvendo atividades de pesquisa científica,
orientação à visitação, criação de legislação específica, fiscalização ao cumprimento da legislação,
educação ambiental e envolvimento comunitário.
O Projeto Golfinho Rotador executa suas ações por meio de três programas: pesquisa, educação
ambiental e envolvimento comunitário. A seguir detalharei estes programas com as informações
necessárias para entender como atingimos nossos resultados científicos.

A Pesquisa

O Programa de Pesquisa do Projeto Golfinho Rotador consiste no estudo da história natural dos
golfinhos-rotadores por meio de setes subprogramas: ocupação e distribuição de cetáceos, ecologia
comportamental, catalogação dos golfinhos, caracterização genética, interação do turismo com os
golfinhos, comportamento trófico e Rede de Encalhes de Mamíferos Aquáticos.

O Monitoramento da Baía dos Golfinhos
A Baía dos Golfinhos foi monitorada por meio do registro da ocupação da enseada pelos rotadores
entre 10 de janeiro de 1991 e 23 de agosto de 2011, com esforço amostral em 5.323 dias,
totalizando 35.589 horas de observação, com uma média diária de mais de 7 horas de estudo em
campo.
Para este subprograma, são executadas observações ponto fixo do Mirante dos Golfinhos, com
análise comportamental de registros escritos, fotográficos, videográficos e bioacústicos.

Os mergulhos livres
Entre janeiro de 1991 e 23 de agosto de 2011, foram realizados 1.278 mergulhos com golfinhos,
totalizando 610 horas de observação subaquática dos rotadores em Fernando de Noronha. As
observações em mergulho em sua grande maioria (75%) ocorreram dentro da Baía dos Golfinhos ou
na Entre Ilhas. Em 80% do tempo de mergulho foi observado diretamente os golfinhos dentro
d´água. Também foram realizadas 52 horas de filmagens e tiradas cerca 60 mil fotografias dos
golfinhos-rotadores e de seus comportamentos em Fernando de Noronha.

A educação ambiental

A mitigação dos problemas socioambientais de Fernando de Noronha depende da participação da
população no uso responsável dos recursos naturais e na execução consciente das atividades
turísticas. O Projeto Golfinho Rotador, em parceria com Parnamar-FN, APA-FN e Escola AFN,
executou um amplo programa de Educação Ambiental, com foco na temática marinha e nas inter-
relações ecológicas deste ecossistema com o cotidiano da população local e dos visitantes.

Os ilhéus
Com os ilhéus, a educação ambiental consiste na realização de atividades de percepção,
sensibilização e conscientização com os prestadores de serviços turísticos e com os alunos da Escola
Arquipélago Fernando de Noronha.
Um dos nossos objetivos de Educação Ambiental foi sensibilizar quanto à importância da conservação
e ao uso sustentável do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (Parnamar-FN) e da Área
de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha (APA-FN).
A metodologia de trabalho foi organizada em função da segmentação do público alvo.

Prestadores de serviços turísticos
Com os prestadores de serviços turísticos do Parnamar-FN e da APA-FN foram realizados debates
ambientais com vários segmentos, como condutores de visitantes, proprietários e motoristas de
veículos de transporte terrestre, proprietários e tripulantes de embarcações turísticas e proprietários
das empresas, condutores de mergulho autônomo e proprietários e funcionários das pousadas.
Alunos da Escola FN
Com os alunos da Escola Arquipélago Fernando de Noronha (Escola FN) aconteceram as atividades
de Disciplina de Educação Ambiental, oficinas ambientais teóricas e oficinas ambientais práticas.
Entre 2001 e 2011, foram 610 Oficinas Teóricas de Educação Ambiental, envolvendo cerca de 7,5 mil
alunos. Algumas temas abordados nas oficinas teóricas foram: Aspectos Abióticos e Bióticos do
Planeta Terra; Teoria Gaia e Interdependência; Diversidade Biológica e Adaptação; Ecossistemas de
Fernando de Noronha; História da Relação do Homem com os Recursos Naturais; Histórico da
Ocupação Humana em Fernando de Noronha; Sustentabilidade; Estratégia do Golfinho; Zoneamento
e Áreas Protegidas, Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Parque Nacional Marinho de FN e
Área de Proteção Ambiental de FN.
         Como principal resultado alcançado com os estudantes da Escola FN tivemos o incremento no
conhecimento ambiental sobre o Parnamar-FN e a APA-FN, dado constatado pela análise dos
questionários de avaliação, que registraram incremento médio de acerto de cerca de 20%, entre os
questionários aplicados antes e após as oficinas.

Férias Ecológicas
Nos anos 1996, 2001, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010 o Projeto Golfinho Rotador
realizou as “Férias Ecológicas”, um programa criado pelo Parque Nacional Marinho de Fernando de
Noronha. Em 1990, visando aproximar a população local das ações de conservação do Parnamar-FN,
o então Chefe do Parque, Heleno Armando da Silva, e o Chefe de Fiscalização, Josivan Rabelo
idealizaram as Férias Ecológicas. Este programa proporciona uma série de ações educativas práticas
e teóricas desenvolvidas com estudantes da ilha, com o objetivo de sensibilizar crianças e
adolescentes frente aos processos naturais e sociais, além de oferecer opções de lazer educativo
para as crianças em férias escolares.
Nestes sete anos, 655 alunos e 45 monitores participaram das Férias Ecológicas. As atividades
atenderam estudantes da Escola AFN, entre 3 e 17 anos. As turmas eram divididas em classes
etárias, cada qual participando durante seis dias da semana, de segunda a sábado. As atividades
realizadas foram: apresentações, debates, trabalhos manuais, jogos e saídas de campo. Foram
abordados temas sobre a conservação da biodiversidade, paisagens e comportamento dos golfinhos-
rotadores em Fernando de Noronha.
Anualmente houve oficinas paralelas de capoeira, música, teatro de fantoche e maracatu, bem como
atividades de mergulho com golfinhos, mergulho livre orientado em locais fechados à visitação para
grande público, trilha do Mirante dos Golfinhos, passeio de barco, escultura de areia e caça ao
tesouro na praia, oficina de pipas, “programa de índio”, “trilha cega”, oficina de fotografia,
“flanelógrafo”, construção de molduras em papel machê, oficina de reciclagem, “cinemar”,
reconstrução de ambientes, mosaicismo e pintura de camisetas.
A continuidade do programa tem sido fundamental para alcançar os objetivos planejados e desejados
de envolver e sensibilizar as crianças e os adolescentes que participaram das atividades, bem como
dos monitores, pais e idealizadores.

Os visitantes
Com os turistas, o Projeto Golfinho Rotador mantém programa de sensibilização e orientação
ambiental nos pontos mais visitados de Fernando de Noronha: Porto Santo Antônio, Baía do Sueste e
Mirante dos Golfinhos. Além de orientar e distribuir folder interpretativo aos visitantes, os monitores
registravam as infrações ambientais às normas do Parnamar-FN e da APA-FN.
No Porto Santo Antônio foram 191 dias com 736 horas e 50 minutos de observação, quando foram
registrados a presença de 35.820 turistas (M=189,52; DP=52,87). Na Baia do Sueste foram 67 dias
de trabalho, totalizando 253 horas e 48 minutos de observação, quando foi registrada a presença de
4.165 turistas (M=60,36; DP=27,31).
No Mirante dos Golfinhos, entre 1991 e 2011, foram 5.323 dias de orientação a visitação e
monitoramento do cumprimento da legislação ambiental, totalizando 35.589 horas. Neste período,
atendemos a 232 mil turistas.
Uma vez por semana é ministrada palestra sobre golfinho-rotador aos visitantes e moradores no
Centro de Visitantes do Projeto TAMAR/ICMBio, com público médio de 75 pessoas.

O Envolvimento Comunitário

O Programa de Envolvimento Comunitário objetiva estimular o desenvolvimento sustentável de
Fernando de Noronha, promovendo capacitação profissional, consolidando representatividade em
conselhos locais e apoiando iniciativas culturais e esportivas. Assim, executamos três subprogramas:
Capacitação Profissional, Gestão Participativa de Fernando de Noronha e Apoio Esportivo e Cultural.

A capacitação profissional
O método que o Projeto Golfinho Rotador escolheu para participar com a comunidade na busca do
desenvolvimento sustentável de Fernando de Noronha foi a capacitação profissional dos ilhéus em
ecoturismo. A capacitação dos jovens locais para o mercado de ecoturismo ocorre por meio da
realização gratuita de cursos de formação em profissões relacionadas ao turismo local, como
instrutor de mergulho autônomo e conversação em inglês.
Desde 2005 a 2011, o Projeto Golfinho Rotador realizou 45 cursos profissionalizantes, como Condutor
em Mergulho Autônomo, Condutor de Turismo em Observação de Ecossistemas Recifais, Condutor de
Turismo de Observação de Aves, Condutor de Turismo e Observação de Golfinhos, Condução de
Geoturismo em Fernando de Noronha, Condução de ecoturismo em Unidade de Conservação,
Condução de Turismo Histórico em FN, Técnicas em Ecoturismo, Primeiros Socorros, Marinharia,
Mecânica Náutica, Produção de Artesanato, Confecção de Pranchas, Conversação em Inglês,
Informática Básica, Informática Aplicada, Informática Funcional, Gestão do Empreendimento, Gestão
em Ecoturismo, Hotelaria, Gestão de Restaurantes e Hotéis, Qualidade no Atendimento ao Turismo e
Apresentação de Maracatu. Ao todo foram 1.975 inscritos, com um índice médio de aprovação por
curso de 70%.

OS GANHOS DO PROJETO GOLFINHO ROTADOR
         Nos seus 21 anos, o Projeto Golfinho Rotador apresentou vários resultados positivos para os
rotadores, para a população noronhense, para os visitantes e para a comunidade científica, entre os
quais destacamos:
•        econômicos > divulgar e estimular o turismo para observação de golfinhos;
•        turísticos > aumentar o grau de informação sobre golfinhos dos condutores de visitantes;
•        educativos ambientais > aumentar a consciência dos ilhéus e visitantes quanto a necessidade
de se preservar os golfinhos e o planeta de maneira em geral;
•        conservacionistas > propor, divulgar e fiscalizar a criação de normas de conservação a
cetáceos e de Fernando de Noronha, como a Portaria do IBAMA n° 05/1995, que define normas
específica para evitar o molestamento dos golfinhos-rotadores em Fernando de Noronha;
•        científicos > descobrir e divulgar que o descanso é a principal utilização da Baía dos Golfinhos
pelos rotadores; descrever para a espécie Stenella longirostris os comportamentos de descanso
reprodução, guarda e amamentação em ambiente natural; definir e correlacionar parâmetros
ambientais com a presença de golfinhos na Baía; qualificar e quantificar a taxa de ocupação da Baía
dos Golfinhos pelos golfinhos-rotadores ao longo de 20 anos correlacionar esta taxa com parâmetros
ambientais e com as perturbações do turismo náutico.
A probabilidade de se encontrar golfinhos em Fernando de Noronha é a mesma desde 1990,
demonstrando que os esforços de conservação do IBAMA, do ICMBio e do Projeto Golfinho Rotador
têm dado certo, apesar de já começarmos a ver algumas alterações quanto ao tempo de
permanência dos rotadores na Baía dos Golfinhos.
O Projeto Golfinho Rotador teve grande participação na criação do Santuário de Baleias e Golfinhos
do Brasil, que tem grande significado político quanto à posição conservacionista do país perante à
Comissão Internacional da Baleia, de valorização do uso não-letal de cetáceos.
O Programa Férias Ecológicas vem despertando nas crianças e adolescentes da comunidade
noronhense a consciência ambiental que nos dias de hoje é fundamental para a preservação das
maravilhas de Fernando de Noronha e a conservação ambiental do planeta como um todo. Além
disso, o programa tem melhorado a auto-estima destas crianças e adolescentes, fazendo-os
compreender que são os principais responsáveis pela manutenção da biodiversidade e equilíbrio do
Arquipélago. O programa também possui um grande alcance social, à medida que cria oportunidades
de diversão e aprendizado para crianças e adolescentes noronhenses e impede que estes estejam
entregues ao ócio em pleno verão, quando o turismo atinge seu ápice e a grande quantidade de
turistas inevitavelmente implica na entrada de diversas realidades e mentalidades para o convívio
com a comunidade. É durante este período que os pais estão mais atarefados e consequentemente
menos presentes dentro da estrutura familiar, uma vez que o turismo representa a principal atividade
sócio-econômica da ilha.
O principal resultado atingido pelas atividades de educação ambiental com os prestadores de turismo
foi sua inserção nas discussões de temas relacionados ao funcionamento do Parnamar-FN e da
APA-FN, sendo um dos temas procedimentos para observação de golfinhos.
         O Programa de Capacitação Profissional tem melhorado a qualidade dos serviços oferecidos
em ecoturismo e fornece subsídios para a população noronhense construir uma sociedade
sustentável em Fernando de Noronha, uma vez que a solução ou mitigação dos problemas
ambientais e sociais locais passa pela participação consciente da população na execução das
atividades turísticas e nas diretrizes do desenvolvimento, buscando transformar o Parque Nacional
Marinho de Fernando de Noronha realmente em um pólo de ecoturismo, onde a atividade turística
seja sustentável.  

OS ROTADORES DE NORONHA 


         De acordo com nossa hipótese, os rotadores de Noronha vivem na Cadeia de Montanhas
Submarina de Fernando de Noronha. Uma área com forma retangular com as seguintes posições: o
Monte Submarino 379 (coordenadas geográficas: 4º10'Sul e 32º00'Oeste), distante 58 km a sudeste
de Fernando de Noronha é a extremidade oeste desta área; o Atol das Rocas (3°50' Sul e
33°50'Oeste), 159 km a leste de Noronha é o centro; o Banco Sírius (4º00' Sul e 36º00' Oeste),
localizado a 400 km de Noronha, é a extremidade leste; a borda do prolongamento da Plataforma
Continental defronte ao Cabo do Calcanhar (5º00'Norte e 35º00'Oeste), no Estado do Rio Grande do
Norte, é a localização mais próxima do continente, estando distante 316 km de Fernando de Noronha
(Figura 3.1.).
         Nos 4.725 dias em que foi possível contar os golfinhos entrando na enseada, a frequência
máxima diária oscilou entre 2 e 2.046 indivíduos, com média diária de 335,25 e desvio padrão (DP)
de 227,47.
         Nos 3.193 dias em que foi possível definir o tempo de permanência dos golfinhos na enseada,
os valores variaram de 1 minuto até 12 horas e 45 minutos, com média de 5 horas e 44 minutos e
desvio padrão de 3 horas e 35 minutos.  Os rotadores só foram observados dentro da Baía dos
Golfinhos durante o dia. Nas 75 ocasiões em que foram realizadas observações noturnas na Baía dos
Golfinhos, em noites de lua cheia, não foi encontrado nenhum rotador na enseada.
         A Baía de Santo Antônio/Entre Ilhas passou a ser o local do Arquipélago de Fernando de
Noronha preferido pelos rotadores para descansar, enquanto diminuiu o tempo de permanência
destes cetáceos na Baía dos Golfinhos.
         Nas duas áreas de maior concentração e frequência de Stenella longirostris no Arquipélago de
Fernando de Noronha, a Baía dos Golfinhos e Entre Ilhas, notou-se que os rotadores desenvolviam
comportamentos vitais para seu ciclo biológico, com exceção de alimentação. Eles foram vistos
descansando, em atividades sexuais, cuidando dos filhotes, de guarda ás ameaças, se comunicando
, sendo infectados por agentes patogênicos e interagindo com outras espécies animais. O
comportamento de alimentação dos rotadores, que nunca foi observado na Baía dos Golfinhos ou na
Entre Ilha, normalmente ocorre no Mar de Fora. A seguir vou apresentar uma visão geral dos
comportamentos dos rotadores de Noronha.
          A estratégia sexual dos rotadores de Noronha resulta em uma estrutura social muito fluída, na
qual inexiste a figura paterna, os laços familiares são derivações da relação mãe-filho e irmã-irmã.
  Segundo esses laços, os golfinhos agrupam-se em unidades familiares, sobre as quais se associam
os machos adultos, que flutuam entre as diferentes células familiares.
O sistema de comunicação aéreo foi composto por diversos padrões de saltos e batidas com partes
do corpo na superfície do mar, as quais produziam turbulências características quando o golfinho
reentrava na água. É muito evidente a flutuação horária do grau de agitação dos rotadores na Baía
dos Golfinhos ao longo do dia, em função do número de golfinhos na Baía, hora de chegada dos
animais e número de grupos que chegaram. 
         Observamos em Fernando de Noronha que alguns comportamentos específicos são executados
preferencialmente por machos adultos, o que, para animais que tem estrutura social complexa como
os rotadores, são definidos como atividades de proteção, realizadas pelos indivíduos que estão “de
guarda” protegendo o grupo de ameaças , enquanto que os demais indivíduos  podem se dedicar a
outras atividades, como descanso, reprodução e cuidado parental. Estes comportamentos
classificados por nós de guarda são: enfrentar tubarões, acompanhar embarcações, cercar
mergulhadores e executar atividades aéreas. Os rotadores que estão de guarda são os líderes do
momento, que, quando deixam de estar de guarda executam outro comportamento, como descanso,
deixando de ser líder. Neste momento, provavelmente outro rotador vai ficar de guarda e assumir a
liderança. Sendo por isto, a liderança temporária e compartilhada.
          Os golfinhos-rotadores apresentaram um complexo comportamento social, com vários
sistemas de comunicação, como visual, tátil, químico-sensorial, acústicos e por atividade aérea. São
estes dois últimos que conseguimos estudar em Noronha.

ACENDEU A LUZ VERMELHA
Apesar desse trabalho do Projeto Golfinho Rotador, o turismo náutico tem impactado no
deslocamento dos rotadores para uma nova área: a Baía de Santo Antônio e Entre Ilhas. Entre 1991
e 2005, os golfinhos ocupavam a Entre Ilhas em 30% dos dias do ano; enquanto que em 2006 e
2007, essa frequência passou a ser de 50% dos dias do ano. Em 2008 e 2009, esse percentual subiu
ainda mais: 90% dos dias. Em 2010 e 2005, já temos golfinhos-rotadores descansando na
região”Entre Ilhas” em 95% dos dias, enquanto que na Baía dos Golfinhos, o tempo de permanência
é caiu para menos de 3 horas por dia em média, contra 8 horas nos primeiros 10 anos do Projeto
Golfinho Rotador. “Esse é um primeiro alerta de que os rotadores podem ir embora de Fernando de
Noronha. Se não fosse o Projeto Golfinho Rotador, que protege essa população, os rotadores já
teriam saído da Ilha”, diz José Martins.
Observou-se uma clara diminuição do tempo de permanência dos rotadores na Baía dos Golfinhos ao
longo dos anos de estudo, principalmente a partir de 2003. Diminuição esta com correlação negativa
(r=-0,120; p=0,005) com o tráfego de embarcações de turismo defronte à enseada, principalmente
decorrente do tráfego de barcos de turismo em dias que Fernando de Noronha é visitado por
cruzeiros turísticos.
Coma perspectiva de um novo navio maior, Ocean Dream, com capacidade para 1350 passageiros,
ao invés dos 700 dos navios que operavam anteriormente, os impactos sobre os golfinhos
certamente aumentarão.
Anexos
 Golfinho em rotação
(AA rotação perto leve.jpg - 184.77 Kb)
 Imagem de golfinhos
(cabeçadas leve.jpg - 207.22 Kb)
 Imagem de golfinhos 2
(PGR Educação Ambiental Barco.jpg - 343.66 Kb)
 Pesquisador observando golfinhos
(PGR pesquisa Obs Barco.jpg - 78.84 Kb)
 Pesquisador observando golfinhos 2
(PGR pesquisa Obs Mirante dos Golfinhos 1.jpg - 267.96 Kb)
 Imagem de golfinhos 3
(rotador casal leve.jpg - 203.64 Kb)
 Imagem de golfinhos 4
(rotador closeup leve.jpg - 170.80 Kb)
 Imagem de golfinhos 5
(rotador de frente leve.jpg - 56.35 Kb)
 Imagem de golfinhos 6
(rotador grupo leve.jpg - 207.15 Kb)
 Pesquisador observando golfinhos 3
(Zé Mergulho Baia 2007.jpg - 677.37 Kb)
 Região de ocorrência dos animais
(BR Rocas FN ASPSP.JPG - 453.04 Kb)
 Logotipo de projeto
(Logo Projeto Golfinho Rotadoor.jpg - 63.96 Kb)
por João Suassuna — Última modificação 25/08/2011 10:02

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