quarta-feira, 16 de junho de 2010

MAIOR DESASTRE PETROLÍFERO DO MUNDO - CAMUFLAGENS E VERDADES

A fuga de petróleo no Golfo “pode perdurar anos” se não for travada

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A administração Obama e responsáveis superiores da BP estão a trabalhar freneticamente não para travar o pior desastre petrolífero do mundo, mas sim para esconder a verdadeira extensão da catástrofe ecológica real. Investigadores experientes contam-nos que o furo da BP atingiu um dos canais de migração do petróleo e que a fuga poderia continuar durante anos a menos que passos decisivos sejam tomados, algo que parece longe da estratégia actual.

Numa discussão recente, Vladimir Kutcherov, professor do Instituto Real de Tecnologia da Suécia e da Universidade Estatal Russa do Petróleo e do Gás, previu que a actual fuga de petróleo que inunda as praias da Costa do Golfo dos EUA “poderia perdurar durante anos e anos … muitos anos” [1]

Segundo Kutcherov, um importante especialista na teoria da origem abiogénica do petróleo, “O que a BP furou foi o que chamamos um ’canal de migração’, uma falha profunda na qual hidrocarbonetos gerados nas profundidades do nosso planeta migram para a crosta e são acumulados em rochas, algo como Ghawar na Arábia Saudita” [2] Ghawar, o campo petrolífero mais prolífico do mundo, tem estado a produzir milhões de barris de petróleo por dia durante quase 70 anos sem nenhum término à vista. Segundo a ciência abiótica, Ghawar tal como todos os depósitos gigantes de petróleo e gás do mundo, está localizado sobre um canal de migração semelhante àquele no Golfo do México rico em petróleo.

Como escrevi já em Janeiro de 2010 no momento do desastroso terramoto do Haiti [3] , este país foi identificado como tendo potencialmente enormes reservas de hidrocarbonetos, assim como a vizinha Cuba. Kutcherov estima que todo o Golfo do México é um dos mais acessíveis locais do planeta para extrair petróleo e gás abundante, pelo menos antes do acidente do Deepwater Horizon no mês de Abril.

“Na minha visão, os chefes da BP reagiram com o pânico face à escala do petróleo expelido para fora do furo”, acrescenta Kutcherov. “O que é inexplicável nesta altura é porque eles tentam uma coisa, fracassam, então tentam uma segunda, fracassam, então uma terceira. Dada a escala do desastre eles deveriam tentar toda a opção concebível, mesmo se a décima, tudo ao mesmo tempo na esperança de que uma funcione. Caso contrário, esta fonte de petróleo poderia vomitar óleo durante anos dados os volumes que já vieram à superfície” [4]

Ele enfatiza: “É difícil estimar quão grande é esta fuga. Não há informação objectiva disponível”. Mas tendo em consideração a informação acerca da última descoberta ’gigante’ da BP no Golfo do México, o campo Tiber, a umas seis milhas [9,66 km] de profundidade, Kutcherov concorda com Ira Leifer, um investigador do Instituto de Ciência Marinha da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara, o qual diz que o petróleo pode estar a ser expelido a uma taxa de mais de 100 mil barris por dia. [5]

Tal enormidade da fuga de petróleo vem mais uma vez desacreditar claramente o mito das companhias petrolíferas do “peak oil” [NR] , o qual afirma que o mundo já está ou está próximo do “pico” da extracção económica de petróleo. Este mito, o qual tem sido propagandeado nos últimos anos por círculos próximos ao antigo homem do petróleo e vice-presidente de Bush, Dick Cheney, foi efectivamente utilizado pelas principais companhias gigantes do petróleo para justificar preços mais elevados do petróleo que de outra forma seriam politicamente impossíveis, com a afirmação de uma escassez de petróleo não existente.

Obama & BP tentam esconder

Segundo uma reportagem do jornalista de investigação de Washington Wayne Madsen, “a Casa Branca e a British Petroleum estão a encobrir a magnitude do desastre petrolífero de nível vulcânico no Golfo do México e a trabalhar em conjunto para limitar a responsabilidade da BP pelos danos causados pelo que pode ser chamado um mega-desastre”. [6] Madsen cita fontes dentro do US Army Corps of Engineers, FEMA e Departamento de Protecção Ambiental da Florida para corroborar a sua afirmação.

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Tony Hayward (BP)

Manchas de óleo à superfície. Obama e a sua equipe senior da Casa Branca, bem como o secretário do Interior Salazar, estão a trabalhar com o executivo chefe da BP, Tony Hayward, sobre legislação que elevaria o limite superior de responsabilidade por reclamações de danos daqueles afectados pelo desastre petrolífero de US$75 milhões para US$10 mil milhões. Contudo, segundo estimativas informadas citadas por Madsen, o desastre tem um custo potencial real de pelo menos US$1000 mil milhões (um milhão de milhões de dólares). Esta estimativa apoiaria a avaliação pessimista de Kutcherov de que a fuga, se não for rapidamente controlada, “destruirá toda a linha costeira dos Estados Unidos”.

Segundo a reportagem de Madsen, as declarações da BP de que uma das fugas fora contida são “pura desinformação de relações públicas destinadas a evitar o pânico e exigências de maior acção por parte da administração Obama, segundo fontes do FEMA e do Corps of Engineers”. [7]

A Casa Branca tem resistido a divulgar qualquer “informação danosa” acerca do desastre petrolífero. Peritos da Guarda Costeira e do Corps of Engineers estimam que se o geyser oceânico de petróleo não for travado dentro de 90 dias haverá danos irreversíveis para os eco-sistemas marinhas do Golfo do México, Oceano Atlântico Norte e mais além. Na melhor das hipóteses, dizem alguns peritos do Corps of Engineers, levaria dois anos para cimentar a fenda no fundo do Golfo do México. [8]

Só depois de a magnitude do desastre tornar-se evidente é que Obama ordenou ao secretário de Segurança Interna, Napolitano, declarar o mesmo como uma “questão de segurança nacional”. Embora a Guarda Costeira e o FEMA seja parte do seu departamento, a razão real de Napolitano para invocar a segurança nacional, segundo Madsen, foi simplesmente para impedir a cobertura pelos media da imensidão do desastre que está a desdobrar-se para o Golfo do México, o Oceano Atlântico e suas linhas costeiras.

A administração Obama também conspirou com a BP para esconder a extensão da fuga de petróleo, segundo o repórter citado e fontes estatais. Depois de a plataforma petrolífera ter explodido e afundado, o governo declarou que 42 mil galões [158.987 litros] por dia estavam a jorrar da fenda no leito do mar. Contudo, submersíveis que monitoram a fuga de óleo no leito do Golfo estão a ver figuras no écran do que descrevem como uma erupção de petróleo “tipo vulcânica”.

Quando o Army Corps of Engineers tentou pela primeira vez obter da NASA imagens da mancha de petróleo no Golfo, a qual é maior do que está a ser relatada pelos media, foi-lhe segundo consta negado o acesso. Por acaso, o National Geographic conseguiu obter imagens de satélite da extensão do desastre e publicou-as no seu sítio web. Outras imagens de satélite que consta estarem a ser retidas pela administração Obama mostram que o que jaz sob a fenda escancarada vomitando petróleo a uma taxa sempre alarmante é uma caverna que se estima ser da dimensão do Monte Everest. A esta informação foi dada uma classificação quase ao nível de segurança nacional para mantê-la afastada do público, segundo fontes de Madsen.

O Corps of Engineers e o FEMA são considerados serem altamente críticos da falta de apoio para acção rápida após o desastre petrolífero por parte da Casa Branca de Obama e da Guarda Costeira dos EUA. Só agora a Guarda Costeira entendeu a magnitude do desastre, despachando aproximadamente 70 navios para a área afectada. Sob as frouxas medidas regulamentares implementadas pela administração Bush-Cheney, o Minerals Management Service (MMS) do Departamento do Interior dos EUA tornou-se um simples “carimbador”, aprovando tudo o que as companhias petrolíferas quisessem em termos de precauções de segurança que poderia ter impedido tal desastre. Madsen descreve um estado de “colusão criminal” entre a antiga firma de Cheney, Halliburton, e o MMS do Departamento do Interior, e que o potencial para desastres semelhantes existe com as outras 30 mil plataformas (rigs) offshore que utilizam as mesmas válvulas de bloqueio (shut-off valves). [9]

Silêncio dos grupos ecologistas?… Siga o dinheiro

Pelicano coberto de óleo. Sem dúvida neste ponto estamos em meio do que poderia ser a maior catástrofe ecológica da história. A explosão da plataforma petrolífera teve lugar quase dentro do actual circuito (loop) onde se origina a Corrente do Golfo. Isto tem consequências ecológicas e climatológicas enormes.

Um olhar superficial de um mapa da Corrente do Golfo mostra que o petróleo não está apenas em vias de cobrir as praias do Golfo, ele propagar-se-á para as costas do Atlântico até a Carolina do Norte e então para o Mar do Norte e a Islândia. E além do dano para as praias, a vida marinha e abastecimentos de água, a corrente do Golfo tem uma química, composição (organismos marinhos), densidade e temperatura muito característica. O que acontece se o petróleo e os dispersantes e todos os compostos tóxicos que eles criam realmente mudarem a natureza da Corrente do Golfo? Ninguém pode descartar mudanças potenciais incluindo mudança no caminho da Corrente do Golfo, e mesmo pequenas mudanças poderiam ter enormes impactos. A Europa, incluindo a Inglaterra, não é um deserto gelado devido ao aquecimento da Corrente do Golfo.

Contudo, há um silêncio ensurdecedor por parte destas muito ambientais organizações que deveriam estar nas barricadas a exigir que a BP, o governo dos EUA e outros actuem decisivamente.

Este silêncio ensurdecedor das principais organizações verdes ou ecologistas tais como Greenpeace, Nature Conservancy, Sierra Club e outras pode muito bem ser ligado a um rastro de dinheiro que leva directamente à indústria petrolífera, nomeadamente a BP. Organizações ambientalistas importantes tiveram significativos subornos financeiros nos últimos anos da BP a fim de que a companhia petrolífera pudesse refazer-se a si própria com uma “cara ambientalmente amistosa”, como na nova marca da companhia “para além do petróleo” (“beyond petroleum”).

A Nature Conservancy, descrita como “o mais poderoso grupo ambiental do mundo” [10] concedeu à BP um assento no seu Conselho Internacional de Liderança depois de a companhia petrolífera dar à organização mais de US$10 milhões nos últimos anos. [11]

Até recentemente, a Nature Conservancy e outros grupos ambientais trabalhavam com a BP numa coligação que fazia lobby junto ao Congresso sobre questões de mudança climática. Um empregado da BP Exploration serve como administrador (trustee) não pago da Conservancy no Alasca. Além disso, segundo um relatório recente publicado pelo Washington Post, a Conservation International, outro grupo ambiental, aceitou US$2 milhões em donativos da BP e trabalhou com a companhia num certo número de projectos, incluindo um que examinava métodos de extracção de petróleo. De 2000 a 200 6, John Brown, então executivo chefe da BP, sentou-se na administração da CI.

Além disso, The Environmental Defense Fund, outra influente organização ecologista, juntou-se à BP, Shell e outras grandes corporações para formarem um Partenariado para a Acção Climática, a fim de promover “mecanismos baseados no mercado” (sic) para reduzir emissões de gases com efeito de estufa.

Grupos ambientais não lucrativos que aceitaram donativos ou aderiram a projectos com a BP incluem Nature Conservancy, Conservation International, Environmental Defense Fund, Sierra Club e Audubon. Isto podia explicar porque o clamor político até à data por acção decisiva no Golfo tem sido tão em surdina. [12]

Naturalmente estas organizações por si sós não vão resolver esta catástrofe. O ponto central nesta altura é quem está preparado para colocar os recursos científicos federal e internacionais urgentemente necessários para a resolução desta crise. Acções ulteriores do género daquelas da Casa Branca de Obama até à data ou da BP só podem levar à conclusão de que algumas pessoas muito poderosas querem que esta derrocada continue. As próximas semanas serão críticas para esta avaliação.

por F. William Engdahl

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[1] Vladimir Kutcherov, discussão telefónica com o autor, 09/Junho/2010

[2] Ibid.

[3] « The Fateful Geological Prize Called Haiti », F. William Engdahl, Voltaire Network, January 30, 2010.

[4] Vladimir Kutcherov, op. cit.

[5] « Ira Leifer, Scientist: BP Well Could Be Leaking 100,000 Barrels of Oil a Day », June 9, 2010.

[6] Wayne Madsen, « The Coverup: BPs Crude Politics and the Looming Environmental Mega Disaster », May 6, 2010.

[7] Ibid.

[8] Ibid.

[9] Ibid.

[10] Tim Findley, « Natures’ Landlord », Range Magazine, Spring 2003.

[11] Joe Stephens, « Nature Conservancy faces potential backlash from ties with BP », Washington Post, May 24, 2010

[12] Ibid.Fonte: Rede Voltaire


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