quarta-feira, 29 de junho de 2011

HISTÓRIA DOS 60 ANOS DA TRUTA NO BRASIL

Estação Experimental de Salmonicultura de Campos do Jordão


60 anos da TRUTA NO BRASIL

Por: Yara Aiko Tabata, Ph.D.
Estação Experimental de Salmonicultura, APTA-SAA, yara@apta.sp.gov.br
Marcos Guilherme Rigolino, M.Sc
Estação Experimental de Salmonicultura,
APTA-SAA, rigolino@apta.sp.gov.br


Os primeiros passos...

Em maio passado a truta completou 60 anos de Brasil. Relatos históricos sobre os trabalhos pioneiros que culminaram com a sua introdução em nosso país estão reunidos em uma coletânea de artigos escritos pelo próprio responsável pela introdução, o médico veterinário Ascânio de Faria (Faria, A., 1953), além de outros artigos, alguns deles publicados aqui na Panorama da AQÜICULTURA, nas edições no 51 (Alves, J., 1999) e no 69 (Porto-Foresti et al., 2002a). 


Mais recentemente, no site do Instituto de Pesca (www.pesca.sp.gov.br), também foi divulgado um artigo sobre os 60 anos da trajetória da truta no Brasil, redigido pelo pesquisador aposentado Hélio Ladislau Stempniewski, do Instituto de Pesca, reunindo detalhes históricos inéditos que somente podem ser descritos por quem vivenciou a própria história.


Essas publicações, em especial aquelas que descrevem os estudos que antecederam as primeiras importações de ovos realizadas pelo Ministério de Agricultura, mostram que o objetivo principal dessa introdução era promover o peixamento dos rios localizados nas regiões serranas e, através da pesca, oferecer uma alternativa de alimento de boa qualidade às populações ribeirinhas. 


Cabe lembrar que naquela época havia poucas opções para exploração agrícola em regiões de clima temperado e de topografia acidentada, e que a aquicultura como atividade industrial estava dando seus primeiros passos. Contudo, com o domínio das técnicas de fecundação artificial, a truta já vinha sendo disseminada, desde 1877, em vários países, inclusive nos da América do Sul. 


Esta intensa disseminação não ocorreu apenas pelas qualidades que a truta apresenta para a pesca esportiva, mas, principalmente, pelas facilidades decorrentes de seu transporte na forma de ovos embrionados.


Logo após a introdução da truta, o Ministério de Agricultura instalou, no Rio de Janeiro, o Posto de Salmonicultura de Mosela, próximo a Petrópolis, e o Posto de Biologia e Criação de Trutas, às margens do rio Jacu-Pintado, na Serra da Bocaina, para efetuar a finalização da incubação dos ovos embrionados e a soltura dos alevinos nos rios das regiões montanhosas. 


Em 1964, também com o objetivo de realizar estudos sobre a aclimatação da truta e dar continuidade ao programa de repovoamento, foi inaugurado em Campos do Jordão o Posto de Salmonicultura, atual Estação Experimental de Salmonicultura “Ascânio de Faria”, vinculada à Agência Paulista de Tecnologia
dos Agronegócios da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.


O Posto de Salmonicultura de Campos do Jordão recebeu várias importações de ovos de diferentes procedências até quando, na década de setenta, pesquisadores do Instituto de Pesca de São Paulo iniciaram os trabalhos de reprodução da truta e, a partir de 1974, os ovos passaram a ser produzidos por reprodução artificial realizada no próprio local. 


Neste mesmo ano, por iniciativa do empresário Evaristo Comolati e participação do técnico agrícola Kiyoshi Koike, foi instalada em Campos do Jordão a Salmonicultura Terraço Itália, a primeira truticultura comercial
do país. 


A disponibilidade de ovos e alevinos, a existência de uma unidade comercial de trutas,  somadas ao desenvolvimento da indústria de rações, criaram condições para o surgimento de novas truticulturas no Brasil. No final desta década foi iniciada a construção da Estação Nacional de Truticultura, em Lages (SC), por iniciativa da extinta Sudepe e, também, foi inaugurada a Truticultura Aqua, em Bananal (SP), esta de porte industrial.


As primeiras truticulturas foram concebidas com projetos baseados nas instalações existentes naquela época no hemisfério norte, com tanques do tipo “raceway” ou com formato retangular. O sistema “raceway” demanda altos fluxos de água, enquanto que os retangulares apresentam áreas com baixa renovação de água. 


Esses tipos de instalações acabaram sendo substituídos pelos tanques circulares, que apresentam a vantagem de utilizar a água de modo mais eficiente e são mais adaptáveis aos terrenos de topografia acidentada.


A Abrat - Associação Brasileira de Truticultores
Ao longo da década de 80, as rações comerciais para as trutas eram produzidas por poucos fabricantes, e com uma qualidade bastante questionável, sendo frequentes os problemas decorrentes do arraçoamento. Esse quadro levou os criadores a se organizarem em torno de uma
associação de classe que lhes dessem representatividade e poder de negociação com os fabricantes. Assim, em 1987, foi fundada a Abrat - Associação Brasileira de Truticultores, que facilitou a interlocução entre os criadores e os diferentes elos da cadeia produtiva, favorecendo também a organização de cursos e encontros onde as informações puderam ser transmitidas de forma mais eficiente aos produtores. Esses eventos facilitaram a prospecção das principais demandas tecnológicas do setor, bem como a convergência de pesquisadores interessados na pesquisa com a truta.


O papel da Estação Experimental de Salmonicultura






A Estação Experimental de Salmonicultura de Campos do Jordão teve um importante papel na promoção do desenvolvimento da truticultura brasileira, ao sediar vários projetos de pesquisa que contemplaram diferentes áreas do conhecimento. Isto foi possível graças à adequação das instalações; da geração de diferentes linhagens como material experimental; do estabelecimento de marcadores fenotípicos e citogenéticos; do envolvimento de pesquisadores internos e externos ao Instituto de Pesca; e, principalmente, da existência de pessoal de apoio qualificado para garantir a manutenção dos experimentos.


No começo da década de 80, a Estação iniciou a comercialização de ovos embrionados aumentando a oferta desse insumo que, até então, era adquirido em grande parte através da importação ou fornecido pela Salmonicultura Terraço Itália. Na medida em que cresceu o número de criadores, cresceu também a demanda por ovos e alevinos selecionados que pudessem
melhorar a produtividade dos planteis, fato que levou a Estação a priorizar as pesquisas direcionadas para a formação de linhagens e obtenção de produtos que proporcionassem maior rendimento na produção.


No Brasil os locais favoráveis para o cultivo da truta, especialmente na Região Sudeste, se restringem às regiões de altitude onde, na maioria dos casos, os rios têm pouco volume de água, associado ao fato de que nessas regiões a pressão atmosférica é menor, implicando na diminuição do oxigênio dissolvido na água. Considerando que a produtividade de uma truticultura está diretamente correlacionada com o suprimento de oxigênio, o potencial de produção da maioria das unidades de produção é limitado, não possibilitando a exploração em grande escala.


Estas limitações impostas pela baixa disponibilidade de água, obrigam o truticultor brasileiro a uma utilização bastante intensiva desses recursos hídricos, através da otimização das instalações e da adoção de técnicas criatórias que visam promover o aumento da produção.


Diferentemente da truta de mar (steel head) cultivada no Chile e na Noruega, no Brasil, a variante empregada nos cultivos é a do tipo residente em água doce (landlocked), que faz o ciclo completo em águas interiores, uma vez que a temperatura dos mares nos trópicos não é apropriada aos salmonídeos. Em geral, as trutas landlocked atingem a maturidade sexual aos dois anos de idade e, por apresentarem desova do tipo total, o processo reprodutivo nessas
espécies representa um custo energético elevado, mesmo em condições de cultivo intensivo.


Além do comprometimento do crescimento e da conversão alimentar, a maturação está associada a uma série de outros processos fisiológicos que provocam a diminuição da qualidade da carne e da sobrevivência. Desse modo, a truta landlocked é comercializada na forma de truta porção, com peso ao redor de 300 gramas, que é alcançado antes de atingirem a maturação
sexual. Este procedimento, no entanto, não elimina totalmente o problema associado à maturação, porque os machos são mais precoces e muitos se tornam sexualmente maduros, ainda no primeiro ano de vida, antes de atingirem o peso de abate.


Na década de 80, pesquisas sobre métodos de controle da diferenciação sexual em peixes estavam em franca expansão no exterior, demonstrando as potencialidades dessas tecnologias nos cultivos de trutas. Nessa mesma década, na Estação Experimental de Salmonicultura, eram conduzidos os primeiros trabalhos sobre reversão sexual, com a finalidade de se produzir lotes monossexos femininos para atender aos truticultores brasileiros. 


Neste processo, em vez de se adotar a feminização direta, a obtenção de lotes 100% fêmeas é conduzida em duas etapas, onde na primeira fase é feita a masculinização de fêmeas e, na segunda fase, o sêmen obtido
dessas fêmeas masculinizadas é empregado na fertilização de ovos de fêmeas normais. Esse método indireto é o mais indicado, pois além de se fazer a reversão sexual de um número reduzido de indivíduos, a progênie resultante é 100% do sexo feminino, uma vez que na truta o mecanismo de determinação sexual é XX/XY e não há interferência de genes autossômicos ou de
fatores externos, como a temperatura, na diferenciação sexual. Além disso, as fêmeas obtidas são normais e podem ser empregadas como matrizes.


Paralelamente aos experimentos direcionados para o estabelecimento de protocolos que resultassem nos melhores índices de reversão 

http://www.panoramadaaquicultura.com.br/paginas/Revistas/113/Truta113.asp

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